Localizado numa região preservada como Patrimônio Mundial da Unesco, o hotel fincado em San José del Cabo, Baja California Sur, no México leva a destemida assinatura arquitetural de Miguel Ángel Aragonés às últimas consequências numa união singular entre os mundos natural e artificial
Texto_André Rodrigues
Fotografias_Joe Fletcher
Dizem os mais experimentados que toda jornada, em si, é o destino final. “Viajar é multiplicar-se”, endossa Machado de Assis, o mais importante autor da literatura nacional. Mas, desde que a raça humana incendiou o nomadismo cavernoso para estabelecer essa civilização ergonomicamente estática que habitamos, os prazeres do ócio se tornaram praticamente supérfluos sine qua non para a preservação dos mitos da espécie. Um desses destinos finais que justificam qualquer voyage fica em San José del Cabo, Baja California Sur, no México. Com amplos 47 mil metros quadrados de área útil, o projeto do hotel Mar Adentro, assinado por Miguel Ángel Aragonés, toma partido dos entornos como narrativa arrebatadora. “Na primeira vez em que visitei o terreno me vi submergido numa cena onde o deserto encontrava o mar. Uma quantidade enorme de água sob um sol escaldante. Essa fatia de terra, encravada numa região costeira avassalada por resorts all-inclusive, precisava de um mar próprio – de um ar próprio. Afinal, eu estava diante da mais pura, mais minimalista paisagem que qualquer horizonte seria capaz de desenhar”, relembra o arquiteto sobre o projeto que, depois de materializado, deu à luz 192 suítes para hóspedes afortunados. “Cada quarto foi pré-fabricado. Construímos a estrutura inteira dos interiores e enviamos tudo por meio de contêineres até a região, de modo que a mão de obra local foi capaz de fazer a montagem sem grandes esforços. Em uma questão de dias a primeira suíte ficou pronta, fruto da precisão tecnológica da indústria com os saberes artesanais das pessoas no comando das máquinas”, estabelece Miguel Ángel. “Neste projeto, não havia espaço para improviso e, mesmo assim, cada suíte foi projetada com inteligência, imaginação e dedicação. O projeto todo pode ser construído por meio desses processos modulares”, explica. Nos entornos, sítios como o lendário Cabo Pulmo, considerado Patrimônio Mundial da Unesco, justificam o hype da região – num planeta à beira do colapso climático, luxo real é a natureza intocada. “A água é um acontecimento ao longo deste projeto. Todos os volumes arquiteturais que projetamos miram o mar, com as costas voltadas para o barulho da cidade. Neste contexto, o Mar Adentro é como a sagrada Medina, que se abre para o oceano”, explica o arquiteto, que finaliza: “Esse cenário onírico colide com as expectativas que as pessoas têm sobre beleza, e também sobre os conceitos que elas preservam da arquitetura. Acredito que a grande virtude da arquitetura é despertar sensações por meio dos espaços físicos numa série de dimensões que habitam o reino das emoções. Eu acredito ainda que isso tudo é potencializado quando o meio ambiente permite uma fusão, incorporando a arquitetura a si próprio”.






