Projeto de Gui Mattos, a casa implantada sobre base de pedra parece flutuar em meio à Mata Atlântica, no litoral de SP
Texto_Ana Paula de Assis
Fotografias_Carolina Lacaz
Por falta de um, dois: e aqui está outro projeto saltado da prancheta do escritório de Gui Mattos (leia matéria “Rocks Rurais”). Neste caso (ou nesta casa) ele assina o que batizou de “All House”: volume de gesto projetual fora da curva implantado no Sítio São Pedro, situado no Guarujá, litoral sul paulista. O briefing atende um casal jovem com dois filhos adolescentes – durante anos eles frequentaram o local e acalentavam o sonho de construir, ali no condomínio, a toca própria sob as vibrações naturebas, lambidos pelo sol. Distribuída em dois pavimentos, a residência está inserida numa clareira privilegiada, cercada de Mata Atlântica, e parece quase flutuar, já que está ligeiramente suportada por elementos de pedra, quase imperceptíveis, que permitem que o bioma regional siga o seu fluxo natural. “A busca pela luz difusa é feita por um ângulo de deslocamento da cobertura bem como dos painéis de vidro que se abrem apontados ao caminho do sol. Desta forma a casa respira a brisa em meio à mata e garante sua vitalidade”, explica Riccardo Buso, arquiteto responsável pela obra e um dos destaques do team Gui Mattos. Os 626 m² da morada pé na areia se desdobram em hall, estar, home, sala de jantar, dormitórios, gourmet, cozinha, varandas, churrasqueira, deque e piscina. A construção leva estruturas de madeira inseridas no anel de concreto que dão o conforto ao ambiente e efeito plástico arrebatador quando em caixas únicas ou em portais dinâmicos, nas aberturas das varandas. “A projeção da volumetria da sala de TV, em sentido à mata, revestida em ripas de cumaru, emoldura de forma metafórica a vegetação, tal qual um frame, em tons verde, da estampa tropical densa”, ressalta. O desejo pela singularidade junto aos arroubos naturais resultaram em um programa leve e prático mas sem abrir mão da geometria e do equilíbrio dos materiais. “O protagonismo da mata deveria ser complementado ao habitat funcional, organizado em um plano, que acomoda a setorização simples para o conviver, o comer e o contemplar”, revela. No descortinar dos caixilhos, a integração ao entorno verdejante é quase que imediata e convidativa ao deque ensolarado e interessante para um banho de piscina. No processo de definição do caminho criativo para o design de interiores foi levado em consideração a praticidade. “Todos os acabamentos, desde a fase de construção civil, trazem em seu DNA características de durabilidade e resistência à maresia e a umidade, facilita a manutenção e a limpeza, sem a exclusão, do fator estético e sensorial em nenhum momento desse processo”, explica Beatriz Sinkivicio, outra integrante da equipe de interiores do escritório. A busca pela unidade entre os elementos construtivos condutores da morada – a madeira e o concreto – também invadiu o décor com mobiliário e objetos decorativos. Eles fazem paralelo entre o ortogonal e o orgânico do conceito original do layout – concebido para deixar o entorno sempre como o protagonista do cenário. Por lá reluzem exemplares do mobiliário brasileiro como a poltrona Astúrias de Carlos Motta, os puffs, em paleta coral, de Nani Chinelatto, além de outras peças assinadas por Etel Carmona, Aristeu Pires, Dado Castello Branco entre outros expoentes do nosso desenho autoral. Impossível não se deixar levar por esta essência de aura minimalista de ode à natureza.





