O artista Christian Cravo apresenta em primeira mão nas páginas de POP-SE, um ensaio poético e singular que denota de maneira eloquente uma ode à passagem do tempo
Por_Wair de Paula
Fotos_Christian Cravo
O que a fotografia reproduz ao infinito só ocorreu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente.” Lembrei-me deste pensamento de Roland Barthes, ao receber as fotos deste ensaio. Uma suíte muito particular, onde os corpos adquirem certa qualidade pétrea, em interessante contraponto à suavidade do assunto fotografado. E este ensaio apontava para um caminho que, até então, não tinha visto na obra de Christian. Estavam lá todos os elementos de sua cartilha pessoal: a singularidade de seu olhar, os cortes insólitos, o mistério da claridade, tudo mostrava a mão firme e o repertório habitual deste fotógrafo. Mas com outro recorte, outra poética: no lugar do documento histórico/sociológico, recorrente em sua obra, surge um material íntimo, pessoal, um corolário de sua estética. Quando questionei o artista sobre esta série, ele me afirmou fazer de sua visão um instrumento para contar uma história que é, acima de tudo, “humana”. E confirma o que eu já havia sentido, que evitou mostrar os rostos dos fotografados em virtude de um sentido de proteção, como ele diz: “Vivemos em tempos onde o argumento é colocado a prova em todos os sentidos…”. Entendo seu discurso – crianças livres, nuas, felizes – pode vir a ser descontextualizado, face à (falsa) rigidez moral que percebemos na sociedade contemporânea. E ele reforça em seus planos e enquadramentos perfeitos o que afirma como seu leitmotiv: na foto, não há espaço para legendas ou escritos que reforcem o argumento.





