WAURÁ

Sem interferências e com zero impacto na vida dos nativos, o fotógrafo Rogério Assis emprestou o seu olhar na captura das casas dos waurás, o grupo étnico que habita a porção sul do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, com impressionante arquitetura ancestral

texto_Ana Paula de Assis
fotografias_Rogério Assis

“A minha fotografia não faz a idealização eurocentrada do indígena”, dispara Rogério Assis. Com mais de três décadas de estrada, o craque das lentes teve seu début no registro de imagens ao documentar tribos para o Museu Emílio Goeldi em Belém do Pará, em 1988. Ao longo da carreira, passou por veículos expressivos como “Folha de S.Paulo” e “Estadão”, além de externar sua arte em exposições, tanto aqui como na gringa, em países como Estados Unidos, Cuba e Alemanha. O também editor da revista “Pororoca” (publicação independente que circulou entre os anos de 2008 e 2010 com temas relacionados à Amazônia) é reconhecido por ser o primeiro fotógrafo a ter contato com o povo Zo’é – etnia que até 1989 era desconhecida mesmo pela Funai (Fundação Nacional do Índio). Em 2010, a convite do Instituto Socioambiental, Assis acompanhou uma missão de brigada de combate a incêndios no Xingu. Para quem não sabe, o Parque Indígena foi criado na década de 1960 pelas mãos de Orlando, Leonardo e Claudio Villas Bôas junto aos sertanistas e ativistas da causa ambiental Darcy Ribeiro e Marechal Rondon, entre outros apoiados pelo então presidente Jânio Quadros. Foi nesta área de quase 27 mil quilômetros quadrados (reconhecida como referência inaugural e modelo na demarcação de terras na América Latina), situada ao norte do Mato Grosso e onde habitam aproximadamente 5.500 índios, que o paraense emprestou o seu olhar na captura dos Waurás. A etnia habita a parte sul e figura entre os nove povos que possuem a cultura xinguana. “As fotos de arquitetura aconteceram meio sem querer. O foco do trabalho era ajudar a apagar o fogo que se alastrava dos desmatamentos fomentados pelos agronegócios que rolavam fora do parque. Foi minha primeira experiência no Xingu, a região estava extremamente seca e quente e me chamou a atenção o conforto térmico nos interiores destas casas. A sensação que tive era de ter saído de um forno e entrado numa geladeira”, explica. As construções são estruturadas por grandes pilares que dão suporte à armadura de ripas de madeiras e bambu entrelaçados entre si e recobertas com as folhas da estação, que podem ser de palmeira ou sapê. O frescor se deve ao formato, que vai de trinta a quarenta metros de extensão com pé-direito altíssimo acima de 10 metros. Outro traço marcante das habitações é sua relação com o antropomorfismo: fazem referência ao corpo de um homem ou de um animal. A cumeeira está relacionada à cabeça, as aberturas são como a boca e o ânus; o contorno remete à costela e o revestimento, aos cabelos. “Ainda quero retornar e dar continuidade à série de episódios arquitetônicos de outros grupos étnicos”, finaliza Rogério.