Onírica e curiosamente possível, a realidade imagética do fotógrafo americano Rob Woodcox nos convida a sermos nós mesmos – e capazes de feitos extraordinários
Texto_Ana Pinho
Fotografias_Rob Woodcox
Chame de evolução. O que começou com câmeras descartáveis nos anos 1990 se tornou um intricado patchwork de luzes, sujeitos e remakes digitais que pode levar semanas para ser feito. O trabalho de Rob Woodcox, no entanto, não transmite artificialidade. Como se por feitiço, acontece o contrário: a aura é de universo paralelo, povoado pelos vestígios dos sonhos que tentamos resgatar antes que caiam no esquecimento.
Há seis anos dedicado à fotografia profissional, este jovem americano de 29 anos não teme o trabalho duro que suas ideias exigem para sair do papel. A primeira lição veio cedo, quando sua mãe lhe deu uma dica para clicar um acampamento na infância: queria ver gente em pelo menos metade do rolo, não só plantas. “Mesmo jovem, já estava considerando composição e conteúdo”, diverte-se.
Aos 19, estudou o tema formalmente e, munido das ferramentas modernas, deixou as ideias fluírem. “Uso várias técnicas, como expansão e flash externo, que então alio ao Photoshop para editar e aperfeiçoar as imagens finais”, resume ele, que lista René Magritte, Tim Walker, Richard Avedon, Frida Kahlo e Annie Leibovitz como suas referências.
Um de seus autorretratos favoritos, intitulado “All In Our Boxes”, é um exemplo dessa dedicação, que chega a exigir 30 horas de trabalho: Rob aparece dentro de caixas penduradas numa floresta, clamando para que nós também deixemos as nossas. A luz é perfeita em qualquer ângulo.
Avance alguns anos, adicione uma companhia de dançarinos e temos a fluidez escultural dos corpos na série “Dances”, que desafia a gravidade sem perder a leveza e nos lembra de construções das quais somos capazes em conjunto.
“Os conceitos vêm de minhas experiências e de um desejo de representá-las visualmente”, explica. Não raro, envolvem algum nível de ativismo em uma causa importante para o artista, como identidade queer e body positive. “Há muitas maneiras de combater os problemas. Eu escolhi destacar a beleza que naturalmente emana das pessoas e do mundo ao nosso redor.”
Metódico, desenvolveu o que chama de “sessões de pensamento”, quando reserva tempo para focar em um assunto, se deixar levar pela imaginação e tornar o que vislumbrou real. Foi assim que viu as poses que ilustram as páginas de POP-SE, que ganharam vida nos lugares que lhe pareceram instintivamente corretos, como uma laje em Nova York ou as dunas no litoral do México.
Embora tenha um pé nas nuvens, Rob finca o outro no chão. Aprendeu a utilizar marketing digital nos negócios e pensa constantemente em como tornar seus shootings mais eficazes. Para não se perder nas minúcias das acrobacias, por exemplo, levou um responsável pelo ritmo e descreveu, por escrito, aquilo que queria ver.
Como os cliques são feitos externamente, ninguém sai do set até o fim. E não só para evitar retrabalho: a natureza pode intervir e trazer uma nova camada à obra. “Eu nunca poderia prever um pôr do sol perfeito ou uma floresta temperamental enevoada, mas é quando tenho a equipe perfeita para capturá-los que surge a mágica”, garante.
Sempre ativo, Rob organiza workshops para ensinar o que aprendeu, tanto em termos de praxis quanto de business. Já passou por 15 países (inclusive pelo Brasil, para onde gostaria de voltar e fotografar nossa estrela da capa, Pabllo Vittar) e tem viagens marcadas para Colômbia e EUA. Sonha em criar um centro num lugar isolado para artistas buscarem novas energias e aprendizados.
Para quem pensa em (literalmente) viver da própria arte, Rob tem um conselho realista e contundente: mantenha-se fiel ao que você quer criar. Não é uma crença. É um plano. Em tempos de projeção individual online, é um jeito de transmitir a que você veio e evitar se perder em meio ao ruído – seu e dos outros. “No fim do dia, você vai ser contratado pelo tipo de trabalho que mostra. Se quiser criar arte, mostre sua arte.”