Arquitetura da Luz

De dia lambida pelo sol e à noite cintilando em néon furtacor, a residência cravada no Bosque de las Lomas, na Cidade do México, é uma ode ao minimalismo – em cores máxi

texto_André Rodrigues
fotografias_Joe Fletcher

 

Busquei uma arquitetura que protegesse a privacidade dos moradores e proporcionasse uma vivência única em meio aos caos urbano”, sintetiza Miguel Ángel Aragonés sobre sua pièce-de-résistance: a Villa Rombo IV, complexo arquitetural resultado de 5 anos de complexas/detalhadas obras que ergueram 4 volumes unificados em 1, ocupando um total de 477 metros quadrados.

Fixada no privilegiado bairro Bosque de las Lomas, na Cidade do México, o projeto de Aragonés é um flerte direto com o minimalismo clássico turbinado pela visão de vanguarda que transfigura a casa quando o sol se põe e cede lugar ao véu da noite.

As composições sistematicamente simétricas, os móveis sob medida e feitos para uso site-specific, as misteriosas esferas de rochas e os espelhos d’água para contemplação são todos convertidos em novas dimensões sob a luz do luar, hora do dia (mais precisamente, da noite) em que a casa veste suas muitas facetas luminosas, indo do pink ao laranja numa singela troca de ambientes. Fontes e espelhos d’água geram reflexos que superdimensionam os ambientes, sobretudo pincelando os interiores com fragmentos do mundo outdoor: como em quase todas as cidades superpopulosas, as árvores são colaboradoras valiosas.

As áreas sociais são isoladas e o pavimento principal se desenrola por meio de uma série de passarelas em que desfilam espelhos e lounges, com a fatia íntima da residência distribuída ao longo dos pisos superiores – que oferecem mais discrição por terem menos fendas, além de contarem com uma piscina privê acompanhada por paisagismo pontual.

Mas, como avisado, essa casa é outro caso com o tiquetaquear das horas. O esquema luminotécnico adotado oferece cores neon vibrantes que lambem a residência por completo: não é um subterfúgio instagramável, mas sim um domínio total e irrestrito de toda a percepção arquitetural por meio de luzes e sombras. A cada camada geométrica proposta nas linhas de Miguel, novas possibilidades surgem com a luz. Pode ser um laranja acalentador, ou a calmaria do azul, passando até pela extravagância do roxo e do pink. É impressionante como os matizes se espalham, ocupando a totalidade espacial com um efeito cenográfico do tipo teatral/dramático. O sangue latino ferve. Se as fotos correspondem à realidade dos fatos? “A fotografia conta apenas um pedaço da história da minha arquitetura. Na foto, não há tato, não há percepção de textura dos materiais (aspereza ou maciez), não há temperatura quente ou fria. Uma imagem não consegue descrever a jornada do vento percorrendo as folhas da árvore, o som da água numa fonte, o murmúrio do silêncio, os aromas que exalam do jardim. Essas experiências todas são relacionadas à arquitetura e a atmosfera que ela ocupa. Eu só consigo encontrar essas coisas pessoalmente na luz e nas sombras. Todo espaço arquitetônico privado é uma consequência da busca por uma conexão consigo próprio e com as experiências que queremos reproduzir por meio da arquitetura”.

Uma casa – uma villa inteira, na verdade – que é a materialização da mais pura indulgência e subversão, capaz de varrer o minimalismo estético pra debaixo do tapete com o clique de um interruptor.

@miguel_angel_aragones