Avis rara da criatividade

Sempre em busca do novo e com pensamentos que fogem do óbvio, Gina Elimelek, diretora criativa da Think Surface, sabe usar sua excentricidade para dar vida a sonhos e projetos cada vez mais ambiciosos

Por_Matheus Evangelista
Fotografia_
Salvador Cordaro

É impossível falar sobre Gina Elimelek e não citar a forma única e completamente autoral como ela se veste – e não bastassem as combinações gypsies que circulam de um lado para o outro, do vernissage ao coquetel, a diretora criativa da Think Surface ainda é daquelas pessoas que não negam uma boa gargalhada – ou melhor, gargalhadas, porque com ela alegria é sempre no plural. “Tirar o olhar do óbvio é importante. Uma blusa pode ser um turbante; transformo um tecido em roupa no corpo, com alfinetes para modelar; me visto com panos diferentes… Enfim, sou geminiana, adoro ser mutante, e, na dúvida, junto tudo sem medo”, conta ela, que se associou ao marido, o arquiteto Eduardo Oliveira, em 1999, para dar vida à Think Surface – um braço da empresa Tergoprint, que começou atuando na área de Arquitetura e Interiores com foco na customização de revestimentos e acabamentos e foi parar no mundo das artes plásticas e da fotografia de alto nível, parada estratégica onde a criatividade de Gina encontra vazão.

As duas empresas caminham em paralelo: a primeira continua na vertente de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de soluções e produtos para impressão, enquanto a segunda, voltada ao mercado, presta serviços de impressão, projetos gráficos, projetos customizados, criação de conteúdo, entre outros – o céu é o limite. “Contamos com uma equipe multidisciplinar de designers gráficos, arquitetos e profissionais com viés criativo, além de utilizarmos bancos de imagens fotográficas e imagens autorais exclusivas”, explica Gina, que está acostumada a pedidos incomuns e fora da curva. Como ela lida com isso? Dando vida ao que muitos consideram impossível. “Como tudo o que tenha consistência na vida, o propósito da ação é que determina a força do resultado, desde uma simples almofada, até a fachada de um edifício.”

E quando audácia e extravagância dão as mãos, Gina está pronta (e curiosa!) para transformar uma ideia em realidade – por mais estranha que possa ser. “Se já tivemos alguns pedidos incomuns? Várias extravagâncias, via de regra associadas a desejos pessoais e de caráter muito íntimo”, conta. Exemplos? “Brad Pitt pelado em tecido para se transformar em colcha e dormir junto; 50 almofadas feitas com foto das partes íntimas de uma pessoa; um homem pelado sobre um cavalo branco em êxtase; e um quarto inteiro estampado como se fosse uma praia, com piso de areia, coqueiros, mar com ondas e céu azul no teto”, conta. Este último, além do resultado estético “uau”, ainda ajudou o dono do cômodo de uma forma muito pessoal: “Ele passou a estudar mais e a melhorar o desempenho na escola porque tinha prazer em ficar no espaço”, conta, orgulhosa.

O ensaio para esta edição, por isso, não poderia ser ortodoxo: deveria se envergar conforme o sorriso alargado de Gina e reafirmar sua postura irreverente, autêntica e onipresente tal qual a escultura de metal de Franz Weissmann (1911-2005) com a qual foi fotografada. Localizada no Memorial da América Latina, “A Grande Flor Tropical” (1989), recriação livre feita de rubras chapas de aço, brotou da observação do artista brasileiro (nascido austríaco) ao notar a composição das pétalas após o desabrochar de uma flor a partir do aquecimento e iluminação pelo calor de uma lâmpada.

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