Os testes de texturização gráfica e os exercícios diários de pigmentação, renderização e fotogrametria do jovem designer gráfico Filip Hodas reverberaram em obras digitais experimentalistas de cair o queixo e arrepiar a espinha
O mundo está tão de cabeça para baixo que nem mesmo os ícones mais queridos da cultura pop se salvam das garras distópicas que assolam a realidade contemporânea – e isso, artisticamente falando, está longe de ser um problema. Fantasias catastróficas são narrativas que estão em alta, basta observar o interesse em histórias de Aldous Huxley, “Admirável Mundo Novo”; George Orwell, “1984” e “Revolução dos Bichos”; ou Margaret Atwood, autora de “O Conto da Aia”. Essa pegada é o que guia a série “Pop Culture Distopy”, do artista gráfico tcheco Filip Hodas, 24, uma ideia que floresceu de forma despretensiosa e se tornou um sucesso ao ser postada em sua conta no portfólio online Behance. Nela, personagens inesquecíveis do mundo de arcades e desenhos animados como Pac-Man, Hello Kitty, Mickey Mouse e Bender Bending Rodríguez se mostram não tão imortais assim. Repensados como estruturas metálicas monumentais, são inseridos em paisagens pacíficas e desérticas com sinais de abandono. Vegetações altas, cercas enferrujadas e suportes cobertos por musgo despertaram nos internautas uma sensação fantasmagórica de que alguma coisa está fora da ordem. Esse expressionismo detalhista aguça a imaginação de quem observa as figuras por muito tempo. Storytellings podem ser criados por meio delas, como forma de buscar uma resposta para o porquê de terem sido deixadas nessas condições. Salvas algumas intervenções humanas, como pichações e estruturas que parecem ter sido arrancadas, o jovem inconscientemente torna possível a quem olha com cuidado sentir uma certa empatia por objetos inanimados e fictícios deixados à deriva. Atestando que o tempo é o senhor de todas as coisas.