O arquiteto André Luque aciona soluções sustentáveis como o telhado verde ou a camada de elemento vazado que reveste a fachada da casa construída em Trancoso, no Sul da Bahia.
É numa aprazível tarde de verão que o arquiteto paulistano André Luque chega a bordo de sua bike para conceder entrevista à revista POP-SE, no ateliê situado em uma arborizada rua da Vila Olímpia – que em nada lembra os arranha-céus espelhados tão difundidos no corporativo bairro de Sampa. Formado pela FAU-Mackenzie (turma de 2002), Luque, no início da carreira, atuou com o uruguaio Hector Vigliecca e no escritório Rocco Vidal desenvolvendo projetos institucionais, comerciais e residenciais até vencer, em 2004, o concurso para a revitalização de uma estação ferroviária, transformada no Centro Cultural de Araras. A partir daí, o profissional viu sua carreira decolar: no ano de 2006, já com uma cartela de clientes consolidada, alça voo solo ao fundar a André Luque Arquitetura. “Em nossos projetos, a palavra ‘sustentabilidade’ não é utilizada em vão. Prezo pela economia no canteiro de obras. Ultimamente, temos utilizado muito as estruturas pré-fabricadas de madeira ou metálicas. Elas são práticas, ecológicas e funcionam como o ator principal do layout”, explica Luque. A finitude dos recursos naturais – tema que transborda a ordem do dia nos tempos de hoje – norteou a construção da Casa Muxarabi. “Após uma temporada de férias em Trancoso, um cliente do mercado financeiro cansado do agito de São Paulo me procurou com o pedido de ajuda na busca de um terreno grande por aquelas bandas, pois estava interessado em fazer uma pousada ou casas ecológicas dotadas de bangalôs de pegada sustentável. Chegando no lugarejo pela primeira vez, me apaixonei! Quem voltou com o lote negociado fui eu”, explica como nasceu o projeto.
De localização privilegiada, a morada está situada no condomínio Altos de Trancoso, no topo das falésias, em área de preservação ambiental de Mata Atlântica, distante 15 minutos de caminhada da praia ou do charmoso Quadrado – o centrinho cativante e descolado de casario colorido famoso por atrair atores, modelos e jet setters do mundo inteiro atrás de sombra, água fresca e um pouco de badalação pelo balneário, é claro. Finalizado no primeiro trimestre de 2017, o programa do château se desenvolve por aproximadamente 885 metros quadrados, edificado em terreno de declive acentuado de mais ou menos 1,6 mil metros quadrados – com vegetação e topografia naturais preservadas.
“Optamos por não ter escavação: fizemos pequenos acertos e taludes na área sem muito corte ou movimentação de terra. Dessa forma, a casa se acomoda em pequenos platôs parcialmente suspensa do chão”
“Optamos por não ter escavação: fizemos pequenos acertos e taludes na área sem muito corte ou movimentação de terra. Dessa forma, a casa se acomoda em pequenos platôs parcialmente suspensa do chão”, explica. O social pode ser acessado por uma ponte, que leva da calçada ao centro do pavilhão, estruturado com madeiras certificadas na forma de generosos beirais para proteger as bases das intempéries da natureza. Este bloco apoiado por pilares é composto por living, jantar, cozinha, despensa e lavabo. Tudo integrado com direito à contemplação da natureza e sauna conectada à área externa. No andar de baixo, como um grande piloti, estão situados toda a parte de serviço e casa de máquinas, um lounge com redário voltado para o jardim e um aposento de visitas. Pouco mais abaixo desse andar concentram-se outras quatro suítes de hóspedes. “Volumetricamente, o conceito é muito simples: são dois retângulos que se encaixam. O maior, de 24 metros, reúne o pavimento coletivo e o menor, de 16 metros, a ala privativa”, detalha. A piscina de borda infinita ganhou lugar de honra e foi pendurada na altura da copa das árvores, com vista privilegiada do horizonte. Sob este espaço estão a suíte máster e seu closet, dois chuveiros e até a bancada de maquiagem. O terraço-jardim, implantado na cobertura do pavilhão principal, merece menção por ser um “telhado verde” gramado que ajuda no conforto térmico, sem contar o ponto certo no flerte junto à natureza do entorno. Para o grand finale, vale ressaltar a delicadeza da pele presente na fachada social em alusão ao muxarabi. “Queria uma solução que filtrasse a luz do sol e reforçasse a ventilação cruzada para deixar o ambiente mais arejado. Chegamos ao Viroc, painel português elaborado à base de fibra de madeira e cimento queimado. Desenvolvi o desenho da trama que entrelaça a superfície e que também garante a privacidade dos moradores”, finaliza.